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Vamos a ver se é aqui que vou conseguir deixar \"As minhas memórias\", coisitas sobre a minha vida, que foi muito pacata, comparando com outras, mas que foi o meu percurso de vida, raramente programado, mas que não deixa de ter interesse, principalmente para quem me conhece, ou talvez não só...
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AS MINHAS MEMÓRIAS

Dei este título (muito original, diga-se) à página onde vou escrever o que realmente povoa as minhas memórias, porque sei de certo que há coisas de que me esqueci, mas do que me lembro, aqui fica um relato simples, sem pretensões, em linguagem popular, das várias situações que passei na minha vida.
Queria dividir essas memórias em 4 partes distintas, que são:
1ª- na Magueigia, de 1949 a 1961 (mais ou menos)
2ª- após ter começado a trabalhar; no Escandarão, em Torres Novas e em Pataias, de 1961 a 1965.
3ª- em Moçambique, de 1965 a 1985.
4ª- em Leiria, desde 1985 e até não sei quando...

PARTE I

Nasci no lugar de Magagia, freguesia de Santa Catarina da Serra, concelho de Leiria, em 3 de Outubro de 1949. O meu nascimento foi do tipo "caseiro", ou seja, não fui nascer a uma qualquer maternidade onde hoje em dia todos nescem. Foi mesmo lá em casa dos meus Pais, parto provavelmente assistido por uma senhora da terra, que tinha prática do serviço, por já ter feito outros antes e que não exigia mais do que uma bacia com àgua quente e umas toalhas lavadas. Naquele tempo, nas aldeias, era mais ou menos assim em todo o lado.
Depois, bem, até à idade de ir para a escola, não tenho grandes memórias de como foi a minha vida, até aos 7 anos, portanto, mas lembro-me muito bem , isto sem poder afirmar que tinha esta ou aquela idade, de conviver de perto com as galinhas, galos e pintos da capoeira lá de casa, que era um "espaço" fechado com ripas e rede, onde mais tarde, já eu estava em Moçambique, o meu Pai construiu o lagar para espremer as uvas e fazer o vinho, onde hoje (Maio de 2008) ainda se encontra, se bem que ao abandono.
Logo a seguir ao sítio das galinhas, havia o curral dos coelhos. Gostava de lá ir brincar com os coelhos, observar as tocas que eles faziam, dar-lhes comida, pois gostava de os observar a roer as cenouras ou a erva. Também costumava meter o meu braço nas tocas e tirar devagarinho os filhotes que eles lá tinham, para brincar com eles. Nesta "dependência" dos coelhos foi construido o forno de cozer a broa, onde eu também costumava ir pôr lenha para aquecer o forno, nos dias em que a minha Mãe cozia a broa.
Acho que invariavelmente também havia nesse mesmo curral uma cabra ou duas, pois que me lembro da minha Mãe ir ao leite e fazer queijos.
Junto ao alpendre, já perto da entrada para a nossa casa, por baixo do palheiro, havia o curral dos porcos. Havia sempre um ou dois porcos "na engorda" para a matança, cujas carnes eram a base da alimentação da família, ao longo do ano e até à matança seguinte.
Nós convivíamos com os porcos. Estávamos no alpendre na brincadeira, a dormir a sesta, a cortar lenha, a tomar "banho" na bacia, nas bricolages e os porcos ali mesmo ao lado com os reus ruídos e os seus cheiros.
Entretanto eu já andava na escola e "tinha jeito" para os estudos, segundo as minhas professoras, e alguma queda para o desenho, principalmente de letras. Foi no alpendre que uma vez, em 1964, a pedido do Diamantino, eu pintei a primeira placa identificativa do RANCHO FOLCLÓRICO INFANTIL DA MAGUEIGIA, do qual eu também fazia parte. Toquei ferrinhos e salvo erro, depois, tocava com um abano na boca de uma medida de 20 litros, de chapa (almude).
Voltando ainda às matanças, o meu Pai era sempre o "matador de serviço" e ia fazer esse trabalho a casa de alguns vizinhos que lhe pediam. Tinha uma faca própria e o respectivo afiador, mas para dominar o bicho, no início, havia sempre um grupo de compadres a ajudar. Aquando da matança, faziam-se chouriços, morcelas de arroz e até farinheiras, que depois iam "fumar" penduradas nuns paus por cima da lareira. Eram utilizadas as tripas do próprio bicho que primeiro eram lavadas junto ao poço.No dia da matança fazia-se a célebre e tradicional tachada, que eram as fressuras fritas e toda a gente comia do tacho, pois não havia o hábito de pôr a mesa e um prato para cada um. O toucinho e os presuntos eram guardados na salgadeira de pedra, envoltos em sal e assim se conservavam todo o ano.
Os coelhos serviam para se fazerem uns guizados e as galinhas, para além de produzirem os ovos, eram às vezes também guizadas, mas a maior parte da vezes serviam para fazer umas canjas em dias de festa ou quando alguém estava doente. Até aos meus 15 anos não me lembro de alguma vez se ter feito galinha assada na brasa, hoje tão popular e corriqueiro prato.
Os meus Pais também cultivavam hortaliças e legumes e amanhavam umas pequenas vinhas, fazendo alguns litros de vinho para consumo próprio. A comida lá em casa era à base de couves, nabos, grelos, batatas, feijão, ervilhas, favas, chicharos e claro as carnes dos porcos, coelhos e galinhas. Tudo produção própria. O que normalmente tinha de se comprar eram as sardinhas, carapaus, chicharros, bacalhau, arroz, massa e açúcar.
Eu tinha muita dificuldade em "tragar" as hortaliças, porque era muito repetitivo e enjoava, mas hoje adoro-as e até sou capaz de comer um prato de couves ou grelos sem qualquer acompanhamento ou conduto.
Lembro-me que no inverno fazíamos muitas vezes sopas de cavalo cansado, que era vinho quente com açúcar e sopas de broa. Era bom. Aquecia e dava alegria.
Nos dias em que a minha Mãe ou a minha Avó faziam queijos de cabra, faziam-nos depois umas sopas de broa naquela "aguada" que ficava depois de se fazerem os queijos. Era o que se poderia chamar hoje, o leite light, mas acho que elas lhe chamavam soro.